Nota do NEB sobre o falecimento do Padre Bruno

Postado em 30 de maio, 2020

O Núcleo de Estudos Transdisciplinares em Educação Básica da UFPA manifesta o seu mais profundo pesar pelo falecimento do Padre Bruno Sechi, ocorrido nesta sexta-feira, 29 de maio de 2020.

Padre Bruno foi um dos maiores ativistas pelos direitos das crianças e adolescentes no âmbito da Amazônia brasileira.

Nos anos de 1970 esteve à frente do processo de criação da República do Pequeno Vendedor que, por meio de uma pedagogia do diálogo, promoveu a organização de crianças e adolescentes trabalhadores da área do Ver-o-Peso.

A experiência inovadora por ele liderada daria origem, nos anos de 1980, a Cidade de Emaús, que foi implantada em um dos bairros mais socioeconomicamente vulneráveis de Belém, o Benguí. Lá funcionou a mais significativa, e talvez única, experiência de escola libertadora que existiu em Belém, a Escola Cidade de Emaús. Em um tempo marcado pelo autoritarismo, em um país ainda mergulhado na ditadura militar, a escola diferenciava-se em muitos aspectos: adotava uma filosofia educacional baseada nas ideias de Paulo Freire; implementava uma proposta de gestão democrática, com elaboração de Projeto PoliticoPedagógico, eleição de gestores, constituição de conselho escolar; orientava o seu ensino por um currículo socialmente referenciado; praticava uma didática que incorporava a pedagogia de Maria Montessori; dentre tantos outros avanços, que demorariam a ser implementados em outras escolas públicas ou privadas de Belém.

Padre Bruno foi um gigante quando a questão era defender os direitos humanos de meninas e meninos, sobretudo se estes eram socialmente excluídos e marginalizados. Foi incansável no enfrentamento da violência contra crianças e adolescentes, tendo se engajado e promovido intensa mobilização em torno da criação do Estatuto da Criança e dos Adolescentes. Foi fundador do “Centro de Defesa do Menor – CDM”, em 1983, que se transformaria no “Centro de Defesa da Criança e Adolescente – CEDECA Emaús”, instituição pioneira em seu gênero no Brasil. Foi um dos maiores militantes do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua e participou ativamente na luta pela criação dos Conselhos de Direitos das Crianças e dos Adolescentes, assim como dos Conselhos Tutelares.

Padre Bruno Sechi foi um educador que teve a total compreensão de que, como afirmou Paulo Freire, “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”.

Padre Bruno Sechi. Presente!.

Belém, 29 de maio de 2020

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