#AdiaEnem

Postado em 9 de maio, 2020

#AdiaEnem

A crise sanitária provocada pela pandemia da Covid-19 que assola o mundo tem e terá enormes consequências sobre diferentes aspectos da vida. As formas de viver se alteraram para que fosse preservado o máximo de vidas. A realização do trabalho, a convivência social, as famílias e as formas de ensinar e de aprender tiveram que ser ajustadas a esse propósito de preservação das vidas.

Os sistemas de ensino da quase totalidade dos países sofreram paralisações. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), no mês de março, metade dos estudantes do mundo (mais de 850 milhões de crianças e adolescentes) estavam sem aulas devido à pandemia de coronavírus, número que deveria crescer ainda.

No Brasil, estados, municípios e dirigentes de escolas paralisaram as suas atividades no mês de março e assim permanecem, sem perspectiva de retorno imediato. A pandemia, portanto, alterou definitivamente os calendários escolares e adiou os processos de socialização e apropriação de conteúdos curriculares; isso feito para preservar a vida de profissionais da educação, alunos e seus familiares.

Algumas escolas e alguns sistemas estaduais de ensino tentaram manter atividades de ensino a distância por meio do trabalho remoto. Apelando ao apoio das famílias, tentaram manter atividades de ensino e de aprendizagem. Mas esse trabalho remoto, apesar de apresentar potencial, se mostrou incapaz de substituir a relação presencial de professores e alunos, por vários motivos.

As escolas não estavam preparadas para o ensino remoto. O despreparo técnico dos pais, a pouca disciplina para a auto-organização dos alunos, a inadequação de materiais didáticos, a falta de preparação prévia dos docentes e, principalmente, os baixos índices de inclusão digital no Brasil, especialmente quando se trata de acesso à internet de qualidade pela parcela mais pobre da população, são fatores que impediram e impedem que o ensino remoto assegure uma formação escolar de qualidade.

Os estudantes pobres são os mais afetados pelas dificuldades de conexão à internet. Uma pesquisa do Observatório do Direito à Comunicação, do ano de 2018, revela que mais de 50% dos domicílios brasileiros estão desconectados à internet e, considerando as classes sociais, enquanto 98% das casas de classe A no Brasil estão conectadas, somente 8% das casas de classe D e E possuem acesso à Internet. Os estudantes pobres das escolas públicas, portanto, estão em grande desvantagem quando se trata de acesso aos conteúdos escolares por meio do ensino remoto. Conforme dados do próprio MEC, um terço dos estudantes (33,5%) que tentaram vaga no curso superior, nos últimos cinco anos, por meio do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), não tem acesso à internet e a dispositivos, como computador ou celular e, grande parte dos que têm, não dispõem de planos de conexão com qualidade.

Mesmo assim, o Ministério da Educação insiste em manter o calendário das provas do ENEM, mesmo com o isolamento por causa da pandemia da Covid-19. As provas escritas estão previstas para acontecer no mês de novembro. Para isso, o MEC veicula uma propaganda oficial que ignora as baixas taxas de inclusão digital no Brasil e manda um recado claro para os estudantes: “virem-se como puderem”, abandonando-os à própria sorte. Essa propaganda do MEC é vergonhosa!

O ENEM é o Exame Nacional do Ensino Médio, uma prova realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, vinculado ao Ministério da Educação do Brasil, que é a principal forma de acesso as universidades brasileiras. Portanto, manter o calendário do ENEM nessas condições é promover um grave processo de exclusão dos mais pobres no acesso ao ensino superior.

A UNE (União Nacional do Estudantes) e a UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) iniciaram a campanha #adiaenem pelo adiamento do Exame Nacional do Ensino Médio. Pugnando por equidade nas condições de disputa, defendem essas entidades que as provas somente sejam realizadas após a conclusão do ano letivo, presencial, de 2020.

Considerando as condições dadas, manter o Enem é um crime contra a juventude pobre e a sua realização provocaria o agudizamento das já altas taxas de desigualdades educacionais

Adiar a realização das provas do ENEM e garantir a sua realização apenas depois de encerrado o ano letivo presencial de 2020, e isso pode ser somente em 2021, é a luta dos estudantes brasileiros hoje.

Entre nessa campanha, faça a sua foto, mude seu perfil nas redes sociais.

#adiaenem

a) Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Trabalho e Educação (GEPTE) da Universidade Federal do Pará

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